top of page

Entre a busca por afeto e o medo da conexão

  • Foto do escritor: Giulia Kolokathis
    Giulia Kolokathis
  • 26 de mai. de 2024
  • 2 min de leitura

Atualizado: 1 de mai.

Perto o suficiente para sentir o calor do outro; 
longe demais para criar laços com ele.

ree

Quando eu era mais nova, ouvia dos adultos que fazer amigos era mais fácil na infância — quando o tempo era abundante e o coração, menos desconfiado. Com os anos, o tempo parece mesmo acelerar, as prioridades mudam, e a energia disponível para cultivar vínculos vai diminuindo, espremida entre rotinas exaustivas, múltiplas demandas e a própria tentativa de se sustentar emocionalmente.


Muito se fala sobre como as relações têm se tornado mais superficiais e descartáveis. Não é raro que descartemos o outro — ou sejamos descartados — diante de uma frustração, uma decepção ou simplesmente porque a pessoa não corresponde às expectativas idealizadas. Em tempos de aplicativos, arrastamos para a esquerda quem não nos serve, como se as relações fossem algo que se “escolhe” e se “consome” com um toque. Ficou mais fácil evitar o desconforto da rejeição no mundo virtual, mas talvez por isso estejamos cada vez menos tolerantes a ela quando ela acontece na vida real.


A comunicação constante por mensagens faz com que seja possível saber o tempo todo o que o outro está fazendo — mas isso não significa que nos interessamos genuinamente por ele. Seguimos vendo a vida por telas, nos sentindo cada vez mais distantes. E, entre o cansaço da vida adulta e o medo da entrega, muitos de nós seguimos solitários, mesmo cercados de gente.


O medo da conexão é real. Nos aproximamos até certo ponto, mas fugimos quando o vínculo se aprofunda. Queremos companhia, mas evitamos o desconforto de lidar com a vulnerabilidade que a intimidade exige. E assim, ficamos no limiar: buscamos o toque, o carinho, o olhar atento — mas quando o outro começa a se mostrar demais, quando começa a querer saber de nós, a desejar mais presença, nos retraímos.


Mas também há o inverso: às vezes, não queríamos nada… até querermos. Algo se move quando o outro nos rejeita aos poucos — com ações inconsistentes, palavras vagas, presenças que vêm e vão. E, mesmo que ele diga claramente que só quer algo casual, ou que só apareça quando está afim, podemos nos pegar querendo mais. Nem sempre o desejo nasce de uma troca justa. Às vezes, nasce da falta — ou da fantasia de completude. E nos vemos insistindo em relações onde o afeto é unilateral ou escorregadio, tentando decifrar sinais, esperando por migalhas de presença.


É importante lembrar que afeto não é, necessariamente, algo sempre doce ou suave. Afeto é tudo aquilo que nos afeta — que nos atravessa, que nos move ou nos desconcerta. Conectar-se com alguém é sempre um risco: há beleza, mas também há susto. E tudo bem. Não precisamos estar disponíveis para mergulhos profundos o tempo todo. A profundidade não garante verdade. A autenticidade, sim.


Relações não precisam ser intensas ou eternas para serem significativas. Podem ser leves e breves, desde que sejam sinceras. Saber o que se busca — e deixar isso claro para si e para o outro — é uma forma de respeito. Entre o desejo de proximidade e o medo da dor, existe espaço para construir vínculos possíveis, honestos e mais humanos.


Talvez o desafio esteja justamente aí: seguir se permitindo sentir, mesmo diante do risco de ser afetado.

Copyright © Psicóloga Giulia C. Kolokathis – Todos os direitos reservados.

bottom of page